8.27.2006

Na Alaska Highway ate Watson Lake (Canada)

Watson Lake
Km 1834



O parque de campismo municipal de Whitehorse e um excelente local para conviver com outros viajantes. Fundamental para construir o itinerario de viagem atravez da troca de impressoes e experiencias de viagem. Este parque estava cheio deles.!
Edward,um australiano de Wagga wagga.-De donde?, perguntei de novo.-Waga wagga, esclareceu, com uma voz de quem esta habituado a repeticao da pergunta. Aagghh wagga e uma pequena aldeia no "outback" australiano, e o Edward veio para o canada para trabalhar na exploracao petrolifica em Alberta, contou-me, bebendo a sua cerveja em redor da fogueira onde nos encontrava-mos. No parque estava tambem o Tim, um Americano de Missouri, que veio para o Yukon para fazer canoagem. Planeava descer 350 Kms pelo rio Yukon de Carmacks ate Dawson City numa semana. Contou-me, com o seu chapeu de basebol sempre na cabeca. Porque sera que os americanos tem o habito de andar sempre de chapeu, mesmo quando quando nao e preciso.Eram 10.30 da noite!
Ia ser a aventura da sua vida, e estava desejoso para voltar a casa e contar aos amigos as aventuras da viagem que ainda nao comecou.Trouxe consigo uma pistola no caso de encontrar um urso cara a cara... Nao ma mostou, mas contou-me em detalhe como faria se encontra-se um urso, articulando os bracos como se a tivesse nas maos. Nem de ferias viajam sem armas! Sera que sem elas se sentem vuneraveis? Em facto, acho que trazer uma arma para a natureza, tem o efeito contrario, ficas mais vuneravel, pois deixas-te aproximar mais das situacoes de perigo por pensares que estas seguro com a arma.

No dia seguinte chegaram ao acampamento um casal de ciclistas suicos, o Tony e a Valerie, notava-se que as bicicletas ja traziam bastante rodagem. Experientes viajantes que pareciam seguros de cada movimento que faziam.Andam a viajar pela America do norte http://www.alaskatandem.ch/ .Convidaram-me para um cafe na sua tenda. Ao lado dela estava um outro ciclista. Um Japones que nao me recordo o nome, que estava a iniciar a sua viagem ali, e queria ir ate Vancouver. Falava muito pouco ingles, o que dificultava a comunicacao. Remexia o seu equipamento novinho em folha que obviamente ainda nao tinha sido estriado, e ao mesmo tempo articulava palavras soltas em ingles que ninguem entendia. Partiu ao nascer do sol tao rapidamente como tinha chegado. Com aquele speed, ja deve estar em vancouver. A tomar conta de nos todos estava a jovial Stephanie, com a sua t-shirt apertada em decote que lia "I love Yukon", uma Canadiana de Quebec a passar a epoca de verao a trabalhar no parque como recepcionista. O jovem Bruno era um outro ciclista residente no acampamento. Um reformado suico com 64 anos, que passava o tempo a queixar-se das dores no rabo e dos ligamentos de ambas as pernas. Tinha pedalado cerca de 1000 Kms, desde Anchorage no Alaska, e parecia estar um pouco em baixo de forma.Ia para sul como eu. Tinha ido ao hospital essa manha e estava disposto a continuar ate vancouver.

Perguntou-me se eu nao o queria acompanhar e fazer a Cassiar Highway juntos. Disse que sim. Partiria-mos dentro de 2 dias.
No dia seguinte pensei em descortar-me do convite. Porque razao queria eu pedalar com um ciclista de 64 anos, com dores no rabo e a queixar-se dos ligamentos? E ainda por cima suico?(sem ofenca Nela!).
No outro dia, a hora conbinada apareceu junto a minha tenda com a sua bicicleta ibrida, com tamanha carga que ate dava pena. Mas o jovem Bruno estava determinado. Vestia uma camisola estampada com todas as cores possiveis e imaginarias, grandes oculos de sol pretos e capacete na cabeca.O cota radical! No lado direito do guiador trazia duas campainhas suicas penduradas, que me iriam irritar varias vezes durante a viagem. As suas malas dianteiras estavam tao levantadas, por causa da bicicleta ter suspencao dianteira( construiu um suporte especial para elas), que eu questionava como e que ele conseguia manter bom equilibrio. Seguimos viagem pela Alaska Highway.
A Alaska Highway foi uma das grandes obras de engenheria americana do seculo passado.Depois do ataque dos Japoneses em Pearl harbor, o governo americano viu que uma rota terrestre para o Alaska era vital para a seguranca daquele estado e da nacao. A ideia era de construir uma estrada no mais curto espaco de tempo e apenas viavel para uso militar.Em conjunto com o governo canadiano, 10.000 soldados, 4.000 dos quais eram negros dos estados do sul dos EUA, construiram a estrada de 240 0 Kms em extencao em 8 meses, trabalhando 24 horas por dia com o rigor do inverno onde as temperaturas baixavam aos -30 e -40 graus.

Centenas nao sobreviveram para ver a estrada de saibro completada.Tinhamos o vento de frente, por vezes forte. Alteravamos a lideranca com as bicicletas quase coladas para poupar energias. Pelo menos a paizagem era mais bonita do que na Klondike Highway e apesar de ser a estrada principal do Yukon nao tem muito trafico. Grande parte dele sao R.V. (recreational vehicles) autenticas casas moveis, com variantes desde caixotes encaixados nas traseiras de carrinhas com caixa aberta a autenticos semi-reboques com canoas, bicicletas, motos, barcos de pesca e ate jeeps agarrados de alguma forma ao camiao.Com geradores barulhentos e ar condicionado.Quando parqueadas ocupam o estancionamento de 3 carros, e os seus ocupantes, na maioria reformados Americanos, passam o tempo a ver telenovelas Americanas via satelite, e a comer pipocas feitas no micro ondas ou "muffins" com coca-cola light.Comodidades de uma sociedade de consumo. Foi um dia duro, mas mesmo com o vento contra passamos dos 80 Kms.No final do dia procuramos um local para acampar, cozinhamos o jantar, e relaxamos os musculos ao som de uma sessao musical.
Que espirito este homem. Eu chamo-o o cota radical ( porque as vezes faz-me lembrar o Fael de leiria, companheiro de aventura nos Himalaias e Patagonia, que tambem ja com o seu meio seculo vivido e problemas com ligamentos acabou a caminhada no parque de terra del fuego em lideranca) O Bruno e um verdadeiro soldado de viagem, com uma forca de vontade e de espirito que nem as dores de ligamentos e rabo abrassado o impedem de terminar a sua pedalada ate Vancouver.

Observo-o a tocar a sua armonica e vejo-o como uma fonte de inspiracao para a minha viagem.
Viajar de bicicleta nao escolhe idade ou condicoes fisicas, a forca de vontade leva-te a qualquer lado. Quando regressar a Portugal vou tentar convencer o meu pai a viajar comigo! No dia seguinte conhecemos um outro casal de ciclistas, estes holandeses. Ate ao momento, os primeiros numa grande viagem, que vinham, imagine-se, de Ushuaia, o meu destino final no sul da Argentina. Para mim foi a opturnidade para bombardea-los com perguntas acerca do itenerario, clima, locais a visitar, etc, ect. Perguntei-lhes acerca do "gap de Darien", a unica parte da Pan Americana que esta interrompida por cerca de 200 Kms de selva entre a fronteira do Panama e a Colombia. E a reposta foi que cerca de 70 pessoas foram raptadas ha pouco tempo pelos guerilhas colombianos. Quando chegar a essa zona terei que procurar opcoes de itenerario.
Depois de falar com eles , fiquei indeciso no percurso a tomar nos estados unidos, seguindo a costa ate a california, ou pelas rocky mountains, Utah e nevada.
Acabamos de fazer a etapa de whitehorse a Watson Lake, 447 Kms em 5 dias, o que e uma exelente media, e com boa camaradagem.
Chegamos hoje a Watson Lake, que passaria despercebida no mapa se nao fosse a sua "floresta de sinais".Mais de 50.000 sinais de trafico e outros, segundo a ultima contagem em 2005, estao expostos num labirinto, que caso te percas, seguramente encontraras um sinal a dizer:"exit". Os sinais veem de toda a parte do mundo. Apostei com o Bruno 20 dolares se encontar-se um sinal de Portugal. Estes sinais sao trazidos por pessoas em viagem que ao passarem por aqui as pregam em postes de madeira. Suponho que muitas pessoas ja tem conhecimento desta "floresta" e imagino-os a despregar e desmontar enormes sinais pela calada da noite, nas suas cidades ou aldeias, roubando 20 kilos de metal (alguns sao emormes!) colocando-os nas suas R.V. e despeja-los aqui nesta pequena cidade perdida na imensidao da natureza selvagem da Yukon. Tem que lhes dar algum gozo!

Tinha acabado de ler o sinal que dizia:" George Paterson quality meats, just up ahead", quando ouvi o Bruno a dizer:- desisto, nao encontro nenhum sinal portugues, vamos jantar!
Amanha vamos partir para a Cassiar Highway.Vao ser cerca de 1000 Kms por uma parte isolada da provincia da British Columbia, apenas com algumas aldeias assinaladas no mapa, que se for como ja e costume, nao passam de umas bombas de gasolina, um motel, e um restaurante. Mas nao vou partir sem deixar uma placa na floresta de sinais a dizer: APPC LEIRIA.

Nuno Pedrosa, em Watson Lake, Yukon, Canada

1 comment:

Anonymous said...

Ola Nuno!

Estou em Londres com a Joana, a acompanhar cada km da tua viagem. Cuidado com os colombianos!
bjs, Mami