12.08.2007

"À la orden...!" (Colômbia)



Manizales

Parece-me injusto deixar a Colômbia sem me despedir deste país que tanto adorei, com uma última crónica de viagem. Estou em Ipiales, cidade fronteiriça desinteressante, que deve a sua existência ao tráfico e comércio com o país vizinho.
Talvez a única razão que coloca Ipiales nos roteiros turísticos é o fantástico Santuário de las Lajas a 7 km, a sul da cidade


O santuário em estilo neo-gótico dedicado à virgem Maria foi construído sobre uma ponte de pedra que atravessa um estreito desfiladeiro. È uma visão estranha mas espectacular que faz lembrar um pouco os castelos medievais da Europa de leste. A fronteira com o equador fica apenas a 3 kms daqui, mas já a algum tempo que me "sinto" no equador.

Esta última etapa de 775 kms na Colômbia foi - apesar de apressada - bastante diversa, não só em paisagem natural como também humana.
Mas retrocedamos ao início da etapa e a Manizales. Manizales é a capital do departamento de Caldas e uma das 3 cidades do chamado "eixo cafeteiro". Nesta zona montanhosa é produzido o melhor café da Colômbia (e dos melhores do mundo), uma economia que emprega cerca de 2 milhões de colombianos. Estima-se que um número idêntico trabalha no cultivo e produção da coca.

Manizales com cerca de 400.000 habitantes, é uma cidade moderna sofisticada mas com poucos atractivos para o visitante. Nos 11 dias que por ali passei, a parte da cidade que melhor fiquei a conhecer foi a cadeira do consultório do Dr Fernando Rodriguez Gomes. Mas não foi por acaso, nem tão pouco pelo excesso de doces e guloseimas que tenho consumido ao longo da viagem (por necessidade!), ou por ter partido um dente a roer cana de açúcar nas Honduras, meses atrás.

Não, uma visita a um dentista na Colômbia fazia parte dos planos da Panamericana desde o esboço da viagem. Anos atrás, em Londres, a minha então namorada colombiana (e que visito em Manizales) convenceu-me de que se havia duas coisas que os médicos colombianos eram bons, e em cirugias plásticas e reconstrução dentaria.

O Dr Fernando reconhecendo a minha urgência, ou talvez a oportunidade de um trabalho lucrativo, assegura-me que numa semana colocaria uma "dentuça nova". 8 dias depois, e muitas horas na cadeira, o Dr Fernando cumpria a sua promessa com um excelente trabalho que incluíu, entre outras coisas , uma cirurgia às gengivas e 10 novas coroas.

Praca Bolivar em Manizales


Lina,o ciclista, Andres e Andrea


Mariapaz

Por entre visitas ao dentista usufruo da companhia da Andrea, dos seus amigos e da sua adorável filha Mariapaz, aproveito para arranjar a minha maquina fotográfica e dar uns "ajustes" na burra. Trabalho gratuito da loja "especialized" em Manizales -gracias!. De notar que em 4 vezes que levei a burra a uma oficina na Colômbia apenas uma vez tive que pagar pelas reparações!
Aproveito também o tempo livre para fazer uma visita a uma amiga em Medellin.

Medellin

Deixo a bicicleta em casa da Andrea e sigo de "buseta" a Medellin. À minha espera na moderna estação de autocarros estava a Marcela Pimiento. Amiga de tempos londrinos e agora directora de marketing do museu de Antioquia. Um dos melhores museus do país, com uma extensa colecção de arte comtemporânea onde se destacam 2 artistas locais; Fernando Botero e Juan Camilo Uribe, uma espécie de andy warhol colombiano.

Não há muito tempo atrás, Medellin era considerada uma das cidades mais perigosas do mundo. A morte nas mãos dos "sicarios" valia poucos pesos. Rivalidades entres cartéis enchiam as ruas de sangue, e a cidade de Pablo Escobar era um lugar a evitar. Mas todas essas notícias de violência que faziam as páginas dos jornais mundiais, fazem parte do passado.




Actualmente, Medellin é uma das metrópoles da América latina mais seguras, com um excelente sistema de transportes, moderna e sofisticada.
O Flávio e Catalina, amigos da Marcela, convidam-me a um passeio de carro pelo chamado "circuito do oriente", com as suas luxuosas "haciendas" e bonitos "pueblos paisas". Uma zona "play" para os mais afortunados de Medellin com bonitas paisagens e áreas de lazer e segura pela forte presença militar.

Seguimos por uma estrada secundária que sobe as montanhas a leste da cidade. "esta estrada foi em tempos uma das estradas privadas de acesso às terras de Pablo Escobar", contou-me o Flávio continuando: " ali do outro lado da montanha foi o luxuoso rancho-prisão onde Pablo esteve preso antes da fuga".

"A fuga" ficou marcada na história dos narcotráficos colombianos como a maior operação policial realizada no país. Durante 500 dias, cerca de 2000 agentes especiais das forcas policiais colombianas com a ajudas de agentes do FBI, CIA, DEA, assassinos contactados pelos cartéis rivais de Cali, militares colombianos entre outros agentes, formaram uma equipa e buscaram incessantemente um dos traficantes mais ricos do planeta, que -alegadamente - se ofereceu para pagar toda a dívida pública externa do país para poder seguir com os seus negócios ilícitos. Os pormenores da "caça ao homem" podem ser vistos em detalhe no museu da polícia em Bogotá.

Dirigiamo-nos para o que é agora um "condomínio campestre" onde Flávio esta a construir a sua "simples" casa de meio bilião de pesos (170.000 euros) Uma quantia astronómica num país onde 57% da população vive abaixo do limiar da pobreza. Termino a minha visita relâmpago de 24 horas a Medellin com um almoço de tradicional,"Bandeja paisa" , um prato típico da região com sabores que me transportaram à velha Lusitânia: chouriço, morcela de arroz e sangue e longaniça, entre outras iguarias.

Regresso a Manizales.

Nos dias que passei em Manizales conheço a Lina, uma pessoa de coracao grande que por breves momentos me deixou a questionar os planos de viagem.

As criancas especiais

A Lina trabalha como coordenadora para a ONG "Girasol" de Pereira. Uma associação de profissionais de saúde e educação que lida com crianças especiais, jovens e adultos com dificuldades de aprendizagem.
Deixo com eles Cd`s do "pequeno trevo",folhetos e outras pequenas coisas da APPC que viajam nos meus alforges desde o início da viagem.




Aproveito para relembrar que esta viagem não é só minha, mas também das crianças especiais da APPC-Leiria (associação portuguesa de paralisia cerebral) e gostava de agradecer a todos vos que, até ao momento , tem colaborado com a APPC através desta viagem.

Ajude as crianças especiais apoiando-as no seu desenvolvimento e crescimento., com o seu donativo directo para a APPC ou para o fundo online instalado neste site (detalhes na página da caridade)

Aproveito para estender um agradecimento especial à Lynn Pilgrim e a "las Chivas Coffee roasters" nos EUA que para além de estar a patrocinar esta viagem com um generoso donativo para a APPC por cada quilómetro que eu pedale, recentemente lançou uma campanha de angariação de fundos para as crianças especiais da APPC-Leiria na sua cidade natal de Santa Fé, New México, nos Estados Unidos.


O Vale de Cauca

Saio de Manizales tarde. Eram 11.30 da manhã. A Andrea escolta-me de carro ate à saída da cidade. Um downhill acentuado leva-me ao fundo do vale onde me encontro - pela primeira vez na Colômbia - com a estrada Panamericana, a EN25.
Depois de 11 dias parado, e talvez pelas várias garrafas de vinho consumidas em jeito de despedida na noite anterior, com a Andrea, Lina e Andrès, sentia-me débil e sem energias e faço um curto dia de 59 km até Pereira.

Chego , já de noite, e procuro um lugar para passar a noite, dando várias voltas pelo centro da cidade olhando para a entrada de vários hotéis. Todos com escadas. Certo tipo de viajantes procuram certo tipo de hotéis. Ciclistas procuram hotéis sem escadas. Nada mais doloroso depois de um dia duro a pedalar que subir um ou dois pisos (3 está fora de questão) fazendo 2 viagens com os 4 alforges, tenda e saco cama, mais uma viagem para a bicicleta. Depois de várias voltas, encontro o hotel Tucan onde passo a noite.

Os 2 dias que se seguiram através do vale de Cauca, conhecido apenas como "el valle", foram absolutamente planos. O vale (1000 metros de altitude) está "entalado" entre as cordilheiras central e ocidental. É a zona mais fértil na Colômbia onde predomina o cultivo da cana de açúcar. Passo por várias comunidades negras, descendentes dos escravos que trabalhavam no cultivo da cana de açúcar, e que séculos depois ainda se dedicam a esse duro trabalho. Na excelente estrada de 2 vias sou ultrapassado com frequência por "trens cañeros", uma mini-versão colombiana dos "road trains" australianos, ou pela ocasional "chiva", um transporte publico típico colombiano.




Cali

Estava indeciso se deveria entrar ou passar ao lado da cidade de Cali - a terceira maior cidade colombiana com 2.3 milhões de habitantes - pois tinham-me informado que o trânsito estava num absoluto caos devido às construções do novo metro-bus.
Depois do sucesso do Transmilenio de Bogotá, uma rede de transportes de autocarros mascarada como metro, com vias e estações próprias, várias cidades colombianas, incluindo Cali optaram pelo mesmo sistema.

Um comentário no meu guia de viagens ajuda-me a decidir e entro na cidade: " Cali remains sulty 12 months of the year, and that`s why the third largest city in colombia wears less and parties more. In Juancito district you can dance until dawn seven night a week, no questions asked!".

Para além da melhor "rumba" do país, Cali também é conhecida como a capital colombiana de cirurgias plásticas. Bastou-me um passeio pelas "salsatecas" da avenida sexta, para ver o resultado dos médicos cirurgiões. Os seios podem não ser reais, mas são com certeza grandes. Entro numa "salsoteca" e peç o uma Club Colômbia. Por momentos pensei que tinha entrado nalgum concurso da miss universo. Depois de várias club Colômbia, questiono-me se também eu não deveria pedir ajuda ao "Dr lookgood". Depois de quase 25 mil km com o rabo no selim, este já ganhou como que a forma alongada da sela da burra. Mas depois do golpe no orçamento da viagem com os gastos no novo sorriso, decido seguir viagem...

A saída do país

O "el valle" termina em Santander de Quilichao a cerca de 40 km a sul de Cali, e a Panamericana inicia o seu sobe e desce por entre as montanhas das duas cordilheiras que se unem cerca de Popayan. Passo uma noite em Popayan, a cidade branca, com a sua bonita arquitectura colonial e habitantes de descendência andina. Notam-se os primeiros traços da cultura inca na qual viajarei nos próximos meses.





De popayan até à fronteira do Equador a Panamericana "brindou-me" com as paisagens mais bonitas desde as rocky mountains no canada. Um show da natureza, particularmente espectacular entre El Bordo e Ipiales. Uma despedida da Colômbia tão grandiosa como a entrada, num pais tão cheio de contrastares mas ao mesmo tempo uniformizado pela calorosa hospitalidade do povo colombiano. Muitos momentos e historias ficaram por contar e pela primeira vez na viagem sinto-me sem vontade de atravessar uma fronteira..


Nos 3145 km pedalados no país em quase 3 meses de viagem, a Colômbia transformou-se num dos países favoritos da Panamericana. Amanhã entro no Equador e sigo a minha ciclo-deambulação pelo continente, levando comigo uma certeza: A este país quero regressar.
Como diria qualquer colombiano orgulhoso do seu país, usando uma expressão popular ouvida constantemente por todo o lado: "Aqui estamos....À la orden!"

Nuno Brilhante
Em Ipiales, Colombia

4 comments:

Anonymous said...

A Colômbia já estava na lista prioritária de lugares a visitar brevemente (não mais do que 5 anos!).
Acho que depois da tua partilha vai ter que subir mais uns lugares para uma posição de 'um lugar a visitar o mais cedo possível'. Só ainda não sei quando!
A paisagem parece maravilhosa!

Anonymous said...

Olá Nuno,

Gosto de ler as tuas crónicas. Fazem-me estar a teu lado quando as leio.
Ainda faltam uns meses, mas cada vez desejo mais chegar à Colômbia.
Um FELIZ NATAL e que o NOVO ANO te traga estradas mais planas.
Um abraço,
Antonio Queiros

Cidadão do mundo said...

aSeu relato é realmente inspirador, principalmente quando já se está pensando em visitar a Colômbia. Será que você poderia me passar informãções sobre o país? Tipo lugares que considera bons para visitar, cuidados, e etc? Meu email é seansantana@hotmail.com.
Obrigado.

Anonymous said...


Australian sport defect bans medicine to disturbance has an organization to commit a crime or be participated in among them
According to " daily Post " report now, australian crime committee (the thorough investigation that ACC) had by a definite date one year, discover Australian sporting world exists to abuse the circumstance that bans drug extensively, and also have the connection of countless ties with false ball and the criminality that have an organization.
Be in federally on the press conference, ACC referred a name to be " sports abuse banned medicine and have constituent crime activity " report. Report middle finger goes out, this investigation and United States turn over orgnaization of a shot in the arm (USADA) is right the investigation of Si Telang of Mu of car king A is similar. The limits of investigation is very comprehensive: Investigate him athlete not just, the logistics group that is emphasized at their backside however, crime organizes private even doctor.
ACC makes clear, the illegal criminality in sports is browbeating badly Australia. Orgnaization of a shot in the arm is turned over in the United States in the investigation to Armstrong, a lot of evidence make clear: In 20 centuries 90 time metaphase is mixed 21 centuries are earlier, the guilty group that has an organization attempts to permeate section of national major sports. Different is, the minatory consist in that Australian sporting world is faced with is current.
Saselan of chairman of Australian cricket association feels to this report very astonish, but claim at the same time their domain is clean: "Point to cricket without clear evidence. " nevertheless the chairman Smith of rugger league matches discloses, their player or the club is likely already experience case.