9.26.2006

Festa pelas criancas especiais (Canada)

Ola amigos lusos,

Acabei de fazer a "icefield parkway road". A etapa mais espetacular ate ao momento, como podem ver nas fotos do ultimo album, se e que fazem alguma justica a lindissima paizagem das "rocky mountains".

Foram mais 280 kms pedalados pelas criancas da APPC.

Um dos patrocionadores desta viagem, a discoteca Alibi, em colaboracao com a APPC, vai realizar uma festa de apoio as criancas especiais do centro da APPC de leiria, ja nesta proxima sexta feira, dia 29 de setembro.
Uma boa opoturnidade para voces poderem colaborar para esta nobre causa e ao mesmo tempo divertirem-se.Parte da receita da noite vai directamente para a associacao.
A discoteca encontra-se no centro comercial maringa, no centro da cidade.

Bebam um copo por mim.....

Hi guys,
just finnished the icefields parkway road. The most spetacular road until now, as you can see in the new album in the photo gallery,if the photos make it any justice....

another 280 km ride for the special chldren of the "APPC"

Just in case you are in Portugal this week, and around Leiria, my home town, one of this trip sponsors, the Alibi club, is putting up a night dedicated to them. Its already this friday the 29th of september and part of the evening revenue goes straight to the association.
The club is located inside the "maringa" shopping center,in downtown Leiria.
A good oputurnity to help the "special children" and have fun at the same time.

Have a drink on me....
Nuno Brilhante Pdrosa
algures na pan-americana

9.19.2006

A chegada as Rocky Mountains (Canada)

Dia 50
Km 3486


Ao viajar de bicicleta tudo e imprevisível, nunca se sabe o que esta para acontecer ao virar uma curva. Uma paisagem lindissima, um furo, um encontro inesperado..
O que me aconteceu no dia em que sai de Smithers, foi de facto, inesperado. Tinha saído tarde, eram cerca de 11 horas da manha. O dia estava lindo, com nuvens altas, sol e uma pequena brisa de noroeste. Tinha acabado de falar com os meus pais, e isso, encheu-me o dia de uma energia radiante.
A Yellowhead Highway que liga a costa do pacifico as província do interior do Canada, atravessava vastas zonas florestadas. Junto a estrada haviam alguns ranchos com pastagens vacas e cavalos, os primeiros que via desde que a viagem começou. Passei por 2 ou 3 aldeias de Mennonites, onde rapazes e raparigas da escola brincavam em lugares separados, e vestidos com as suas roupas tradicionais. Foi uma visão bonita, como, se por momentos ,tivesse entrado num passado longinquo. Existem apenas cerca de 1 milhão e meio de Mennonites espalhados pelo mundo. Uma religião adepta a não-violência, não-resistência e pacifismo.

A paizagem mudou desde que deixei a Cassiar, a presença humana e mais evidente.
Tinha feito cerca de 40 kms quando uma carrinha me ultrapassa e para a minha frente. Dela saiu um homem alto e forte, em calções e camisa estampada, e com um largo sorriso. Por momentos pensei que fosse o empregado do parque de campismo municipal de Smithers, que ao descobrir que sai sem pagar a ultima noite veio a minha procura. Já tinha uma desculpa formulada, que, de facto, era a verdade: Tinha-o procurado no dia anterior e essa manha também, com a intenção de lhe pagar, como nao o encontrei deixei-lhe uma mensagem na porta da sua casa:" I've looked for you everywhere. I'm on the Yellowhead'n east. The portuguese cyclist."

Afinal o homem alto e forte era o Paul, um dentista de huston, a próxima aldeia a cerca de 30 kms dali. Depois de um pouco de conversa, convidou-me para passar a noite em sua casa, deu-me o seu cartão, com um numero para o chamar quando chega-se a Huston. 3 horas depois estava no armazém da sua casa, que mais parecia uma oficina de bicicletas, a lavar a minha fiel companheira de viagem: a Kona fire mountain.).
O Paul soltou uma enorme gargalhada enquanto me limpava a corrente, quando lhe disse que andava a usar azeite. Expliquei-lhe que o azeite, um pouco a semelhança do arroz na Índia, ou o coco nas Caraíbas, e um ingrediente multi-funções bastante usado no Meriterrâneo. Essa noite a mesa de jantar com a Gheri, a sua esposa, a Alli, a Dani e a Jo, as suas 3 filhas, falamos com entusiasmo acerca de zonas que eu deveria visitar, e em viagens em bicicleta em geral, um tipo de ferias que toda a família era accionada. Pela altura da sobremesa, o Paul divergiu a conversa para a historia do escaravelho...
Outro dos efeitos do aquecimento global, que e tema de conversa, desde jantares de família, ate debates parlamentares. Os escaravelhos atacam apenas os pinheiros alpinos, cortando o fluxo de agua e nutrientes , tornando as folhas vermelhas, e posteriormente causando a sua morte. São necessarias temperaturas de inverno com cerca de -20 graus para matar a lava dos escaravelhos.

Os invernos amenos dos últimos 4/5 anos permitiram taxas de mortalidade de 10% em vez dos normais 80%. Resultado: uma explosão massiva da população de escaravelhos. Nos dias que se seguiram, observei com mais atenção as florestas, realizando que as suas enormes manchas vermelhas, não são parte das cores do outono, como pensava, mas sim, resultado desta epidemia, que afecta principalmente as províncias do Yukon e British Colúmbia, e que ameaça expandir-se a Este das rocky mountains. Algumas das formas de combate do governo, e o corte de florestas, o fogo posto controlado, e a replantação de floresta mista.
O resto da noite passamos a ver mapas da América do norte e a ver qual seria o melhor itinerário que deveria tomar nos Estados Unidos. Todos foram unânimes, incluindo a Jo, a filha mais nova, que com cerca de 10 anos, já viaja com a sua própria bicicleta, que deveria seguir a rota do pacifico por já estar demasiado frio nas rocky mountains americanas, na altura em que la chegar.
Na manha seguinte, a Gheri preparou-me um lanche para levar, e o Paul um pequeno frasco com óleo para a corrente da bicicleta, que garantiu ser mais adequado ao frio das montanhas Canadenses do que azeite.
Despedi-me da família Comparelii, e desta inesperada situação, com a foto da praxe,e segui viagem....
Tinha feito apenas cerca de 10 kms quando conheci a Kathy e o David, os únicos ciclistas que vi nesta etapa de 807 kms, entre Smithers e Jasper. Sempre pela Hellowhead Highway, atravessando a British Colúmbia de Oeste para Este. A Kathy e o David são de Seattle, deixaram os filhos com alguém e decidiram tirar um mês de ferias a andar de bicicleta pela British Colúmbia, e como andavam a um speed maior do que o meu (cerca de 150 kms dia!)passamos apenas esse dia juntos. Mal eles sabiam que o destino ia mudar os seus planos de viagem.

Os 2 dias que se seguiram ate a cidade de Prince George, tive um vento forte a favor, aproveitei para somar kms. 127 kms e 146 kms, montando acampamento,as 5h e 5.30h, respectivamente.
Prince George e uma grande cidade, moderna e um pouco industrial, a planta nuclear a saída da cidade, espalhava os seus vapores um pouco por todo o lado. Decidi não ficar e seguir viagem. Mas antes fui comprar um saco-cama, deixando o velho com um casal de nativos bêbados que estavam sentados num banco do jardim da biblioteca municipal. O alcoolismo e um problema grave das comunidades nativas. Tenho-o observado desde Inuvik. Presos entre duas sociedades, nas quais não se identificam por completo. Vivem com a nostalgia do passado, e não são aceites por completo na sociedade moderna Canadense, resultando em problemas sociais como o alcoolismo, drogas e desemprego.
O meu novo saco cama e bem mais volumoso do que o outro e não cabe nas malas. Tenho que o transportar junto a tenda em cima do suporte. Mas apenas com pouco mais de um kilo e temperatura conforto de -7 graus, e exactamente o que necessito para as Rocky mountains. Valeu cada um dos 79 dólares que me custou, logo no segundo dia quando as temperaturas no acampamento junto ao rio Holmes baixaram aos -2.
Nessa tarde antes de começar a procurar um local para acampar, um outro carro ultrapassa-me e para um pouco mais adiante. Teria sido uma grande supresa, quando vi que eram a Cathy e o David, se não tivesse dado uma olhadela no meu site na pequena aldeia de Mc Bride no dia anterior, e tivesse visto a mensagem que me deixaram no meu livro de visitas.
A Cathy teve um acidente sozinha, num 'downhill', um problema inexplicavel com a corrente fez com que voasse pelo ar aterrando com o capacete que se partiu em 3 lados e impediu fracturas graves. Depois de uma visita ao hospital de Prince George, dicidiram alugar um carro e arrumar as biclas no porta bagagens.
O David fez questão em me oferecer o seu capacete.
O chapéu 'a fidel passou, de momento, para as malas, e de facto ate me sinto melhor a viajar com capacete.
Nesta ultima etapa de 807 kms pelaYellowhead highway, atravessei toda a British Colúmbia de Oeste para Este, subindo parte das rocky mountains pelo seu passe mais baixo, o Hellowhead passe (1159 metros), e cheguei ontem a esta pequena cidade de montanha ja na província de Alberta.
Estou no Parque nacional de Jasper e Bannf, e por qualquer lado que me vire, tenho montanhas com cúmes de 3000 metros, e acima.
A jóia na coroa das montanhas canadense, as rocky mountains, essa cadeia de montanhas gigantesca que se estende desde do norte do canada quase ate ao sul dos estados unidos..

Estou a espera da Danina,uma amiga australiana que vive perto de vancouver e que chega a Jasper amanha pela manha. Uma amiga de longa data, cujas nossas vidas se tem cruzado ao longo dos anos. Primeiro em Portugal, numas ferias de Verão quando a conheci. Anos depois em Londres, quando a reencontrei na brixton academy numa festa de hard house music awards que ela gostava de frequentar. O ano passado em Whistler, aqui no canada, quando tive as minhas primeiras lições de snowboarding numas curtas ferias de inverno. E de novo amanha, aqui no coração das rocky mountains.
Daqui vou seguir para sul sempre em cima das 'rockies' ate onde o clima o permitir....
Primeiro percorrendo a " Icefields Parkway road" ate Bannf, e depois por estradas ainda não definidas ate Yellowstone, já nos Estados Unidos.
Ai, abandonarei as montanhas (altas!), e seguirei para a costa do pacifico, em busca de temperaturas mais amenas, mas onde provavelmente irei encontrar muita chuva...
'E a forca dos elementos, sempre presente, na construção do itinerário desta aventura rumo a terra do fogo....

Nuno Brilhante Pedrosa
em Jasper, Alberta, Canada.

9.09.2006

Stewart & Cassiar Highway (Canada)


Dia 41 de viagem Kms 2679
Atravessar o paralelo 60 que passa por "cima" de Watson Lake, por alguma razao, fez-me sentir que ja estou "mais a sul", apesar de ainda estar na zona remota do norte da provincia da British columbia.
Desarma-mos as tendas montadas junto a casa da senhora que trabalhava no posto de imformacao turistica de Watson Lake, que muito cordialmente, nos tinha oferecido o seu jardin, quando no posto de imformacao, lhe pedi-mos a recomendacao de um sitio para pernoitar, e parti-mos pela Cassiar Highway.


A Cassiar Highway e uma estrada remota que liga o centro litoral da provincia da british Columbia com o Yukon. Atravessa vales lindissimos com cadeias de montanhas com cumes cobertos de neve. A primeira parte da viagem foi um pouco...humida!
Comecou a chover logo no segundo dia pela tarde.Estava quase a alcancar o km 2000. Para-mos para por o material impermiavel; casaco gore-tex com o capucho sobre o chapeu e oculos de sol para dar visibilidade, poncho por cima e calcas impremiaveis e um par de protectores de chuva descartaveis para as sapatilhas; 2 sacos do pao de forma.
"country harvest", e uma marca que eu gosto de comprar.Pao de aveia com passas de uva e sabor a canela, que alem de nao ser mau no paladar, tem 70 calorias cada fatia e vem num saco tamanha 43 (c.e.) que encaixa prefeitamente na minha sapatilha. Enfiados pela abertura, dobrados por entre a meia,e a calca impermiavel por cima. Sao leves, descartaveis e de borla.
Outro dia duro e molhado. A meio do dia tive um furo, alias um estouro. O primeiro da viagem depois de 2208 kms pedalados. troquei a camera d'ar e pus 2 remendos no pneu que se tinha descozido lateralmente, e segui viagem.

Choveu todo o dia e o vento forte vindo de sul nao parava de soprar. A humidade entranhava-se nos ossos.. O nosso objectivo nesse dia era alcancar a casa do john no acampamento de trabalhandores de manutencao da estrada , em Bob Quinn. Seria uma etapa de 100 kms.Nao tinha-mos alternativa, pois acampar com aquele tempo era sinonimo de uma noite miseravel.
O vento soprava de frente, com rajadas e a chuva fria impedia-me de observar a linda paizagem da Cassiar highway, os meus olhos estavam focados apenas num triangulo de 5 metros de alcatrao. A minha mente viajava um pouco mais a sul, nas praias quentes de areia fina de um mexico com sol radiante. A casa do john estava apenas a poucos kms de distancia, quando de repente um outro estouro tras o meu pensamento de volta a estrada fria humida e ventosa da British Columbia.
BANG!
Numa fracao de segundo o aro da roda traseira roca no chao. Nem precisei de travar, a velocidade que ia estagnei na berma da estrada. Gritei ao bruno mas o vento devolveu-me o grito.
Que dia! Nao um furo, nem dois, mas sim 2 estouros, vento chuva e frio tudo a mistura como se fosse a reacao de um mau karma duma das minhas vidas anteriores. A primeira coisa que me veio a mente foi acender um cigarro. Tirei as malas virei a bicicleta ao contrario e saquei a roda fora. O pneu tinha descozido num sitio diferente. Ao longe vinha um carro. Fiz-lhe sinal para parar. Alem de nao parar, jorou um jacto de agua lamacenta nas minhas calcas. Pela primeira vez na viagem senti-me sem forcas.
Algum tempo depois apareceu o bruno, passou outro carro, este, parando voluntariamente, ofereceu-nos ajuda. Puse-mos as biclas no jeep e alcanca-mos o acampamento em menos de 5 minutos. A casa do john era uma das 6 ou 7 casas pre fabricadas oferecidas pelo governo canadiano aos trabalhadores da estrada. Alem do alojamento tinham servicos de saude gratuitos ( em caso de emergencia,transporte de helicoptero para a proxima aldeia) e 27 dolares por hora. Nao estava ninguem em casa. O John estava a gozar as suas ferias anuais a trabalhar no seu negocio. Um motel em Iskut, onde a chuva nos obrigou a parar por dois dias. Tinha-o comprado por 150 mil dolares, barato, mas com o pouco trafico mal lhe dava para os gastos, contou-nos. Depois do excelente banho e jantar, observei o pneu com mais atencao.

Estava a descozer-se por todo o lado. Nao havia nada a fazer. Arrependido por ter deixado o meu pneu suplente com a Susie, uma canadiana, em Boya Lake dias atraz, dicidi que iria a boleia ate a proxima aldeia Smithers ou terrace a mais de 300 kms dali, comprar outro pneu e regressar. Com sorte levaria 2 dias. Na manha seguinte dei um passeio pelo acampamento numa ultima tentativa de encontrar uma solucao.
Numa das casas estava uma senhora com cerca de 50 anos e com a pela da cara envelhecida dos muitos cigarros e cafes solitarios tomados em frente a televisao. Expliquei o meu problema. Disse-me para tentar a minha sorte no quintal das traseiras da casa. No meio da lixeira de pneus de camiao, pecas de imobiliario e eletrodomesticos ferrugentos encontro um pneu roda 26 !
2 cafes depois e um pouco de conversa, deixei-lhe 15 dolares de agradecimento e segui viagem.
Nada como um dia miseravel para dar valor a luz e calor de um sol radiante.

A minha sorte estava a mudar e a paizagem tambem. Desce-mos de altitude, as temperaturas eram mais amenas e as montanhas com os cumes cobertos com as pimeiras neves da estacao, acompanharam-nos o dia todo. Antes de comecar a descida para os vales ajusto o meu altimetro com um sinal de um cole da estrada. Tinha 120 metros de diferenca. Boas noticias, aproximava-se uma alta pressao atmosferica.
No dia seguinte fui acordado pelo Bruno a chamar-me:
Nuno, vem aqui!, gritou. Quero que conhecas alguem.
Alguem?. Pensei que tinha-mos acampado no meio do nada!
E tinha-mos. So que junto a estrada.
As lindissimas paizagens da Cassiar Highway, o trafico quase inexistente e a isolacao da estrada sao ingredientes com sabor a aventura para ciclistas, nao e de estranhar que seja bastante popular com eles, e nao passou um dia que nao tenha-mos conhecido um. Mas este era especial. Tao especial que ja tinha ouvido falar dele dias atras em jade city ( 10 habitantes) atravez da dona da loja de jade que nos tinha oferecido um cafe e nos contou como por aquelas bandas se extraiam blocos de jade de alta qualidade, que eram exportados para paises como a China Tailandia ou India, onde a mao d'obra barata dos excelentes artesoes locais os transformavam em pequenas obras de arte. Parte para o mercado local, mas a maioria importado de novo para o canada ou para os mercados mundiais.
Quem diria que , secalhar, aquele souvenir de ferias comprado em Phuket veio das montanhas do canada e nao das zonas tribais de Chang Mai?
O Bruno estava a falar com outro ciclista. Randolph e um alemao que ja vai na sua quarta volta ao mundo em bicicleta, creio que me disse serem 14 anos na estrada. Anos atras teve um acidente na Argentina. Foi atropelado por um camiao que o abandonou no meio da valeta inconsciente. Passou 4 anos no hospital, perdeu parte da sua memoria. A policia encontrou o camionista, o processo criminal ja decorre ha mais de 10 anos, e disse-me ja ter gasto mais de 60 mil dolares no processo.
Mas a sua historia nao termina aqui.
Rudolph, recuperado de um cancro e tambem detentor de um titulo no guiness book of records, como o ciclista que pedalou mais dias consecutivos em temperaturas abaixo de 0. Disse-me ter pedalado a -30 graus! Nos iamos rumo a sul para fuguir ao inverno e este maluco ia para norte ao encontro dele. Queria quebrar o seu proprio record, e desta vez tinha o auxilio de 4 skies construidos por ele proprio, e montados lateralmente na bicicleta.Trazia nas malas pneus Schwalbe com bicos, para pedalar no gelo e caso nao tenha forca suficiente transportava consigo um atrelado com 3 caes husky para o puxar.
Tencionava pedalar pelos rios Mckenzie e Yukon quando estes congelarem.
A volta ao mundo dentro do seu proprio e em busca da sua memoria.....
Chegamos a Meziadin junction onde acampamos junto ao lindissimo lago.

A floresta inteira observava a sua propria belesa no reflexo das aguas turquesas.
Em meziadin entrei num postal de paizagem paradisiaca, para so sair 65 kms depois na aldeia de stewart, junto a fronteira com o Alaska.
Deus devia estar muito bem disposto quando criou esta parte do planeta. Montanhas verdejantes com glaciares que quase chegavam a estrada, rios furiosos a descer montanhas. Cascatas descendo penhascos, e e claro:ursos. Ja vou em 11 na minha contagem desde Inuvik. Chegamos a Stewart onde acampamos no parque municipal.
As comunidades fronteiricas de Stewart ( 600 habitantes ), e Hyder ( Alaska, 90 habitantes), estao localizadas no final do canal maritimo de 'Portland', um das dezanas de canais maritimos que fazem parte das "misty fjords" do Alaska. As comuniaddes estao tambem rodeadas de magesticas montanhas costeiras e de glaciares, que fazem parte dos " Cambria ice fields". A principal razao por que vim aqui foi para observar de perto a desova do salmao. Uma das muitas maravilhas da natureza. O culminar de um ciclo de vida de 4 a 5 anos, que termina com a morte dos peixes no lugar certo na altura certa.Depois de divagarem pela vastidao dos oceanos durante a sua vida adulta, iniciam a ardua viagem rios acima ate encontrarem o lugar exacto onde nasceram, libertando milhoes de ovos e morrendo de exautão. O salmao rico em gorduras e a base da dieta dos ursos, que nesta altura do ano estao na fase da engorda, entes de entrarem no periodo de ibernacao.
Com certeza que ficara na memoria por uns tempos o cheiro intenso a peixe podre, os milhares de salmoes mortos na agua, aguias e gaivotas a alimentarem-se deles, e os ursos a alimentarem-se dos que ainda vivem. Com tanta abundancia tornao-se selectivos e comem apenas as femeas e os seus ovos.

No dia seguinte seguimos viagem, percorrendo de novo os lindissimos 65 kms ate 'Meziadin junction', onde cortamos para sul pela Cassiar.
Mais um dia de viagem, e o pneu que encontrei na lixeira em Bob Qinn, comeca a dar ares de cansaco; mais um furo e uns remendos no pneu. Desta vez uma luva de plastico cortada e enrrolada na camera d'ar. Passo os livros e outras cenas pesadas para as malas da frente e o Bruno carrega-me a tenda ( em cima da sua, ja enorme carga!), mas a meio do dia o pneu envelhecido decide nao suportar mais o meu peso. Este era o ultimo dia que viajava-mos juntos. No final da cassiar o Bruno iria para oeste, para a costa onde um ferry o levaria a Vancouver numa viagem de 2 dias. Eu seguiria para este, para o interior da British Columbia e em direccao as Rocky mountains. Com a proxima casa a 70 kms de distancia, no acampamento nativo de Kitwanga, nao tinha alternativa senao fazer "batota" e pedir boleia ate a loja de bicicletas mais proxima. Despedimos-se ali no meio da estrada trocando direccoes, o Bruno deu-me algumas pecas de equipamento, uma navalha suica, um impremiavel para a chuva comprimidos de purificacao d'agua entre outras coisas, e prometeu 60 dolares para as criancas da APPC Leiria. O guarda florestal que me deu boleia, deixou-me mesmo em frente a loja de bicicletas em Smithers, onde comprei um pneu Schwalbe marathon plus.O melhor pneu que havia na loja.
Foram duas semanas de excelente camaradagem e amizade.O Bruno foi grande companheiro de viagem e fonte inspiradora para a minha odisseia rumo ao sul....
Nuno Pedrosa em Smithers, B. C. , Canada